segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Ensino a distância : O Contador de histórias

Um lápis, um caderno velho, lembranças e rabiscos: são com esses elementos que a história de vida do estudante de EAD do curso de Letras, Gilvã de Jesus Mendes, deficiente físico e vítima de paralisia cerebral, ganhou as páginas do livro escrito por ele, “Queria brincar de mudar meu destino”.


E a brincadeira, sem pretensões como qualquer jogo infantil, ganhou contornos de realidade. Os estigmas que geralmente se colam a pessoas como o baiano Gilvã (deficiente, negro, pobre e nordestino) não serviram de barreira, mas como mola propulsora para que esse estudante de 25 anos chutasse o discurso de ausência com que algumas pessoas o enxergam à primeira olhada e encontrasse na educação e na literatura uma forma de ser grande, ser inteiro. O resultado de sua trajetória é contado em seu livro, que fala sobre deficiência e inclusão a partir da história de amor entre um jovem e a poesia. “A ideia surgiu na minha infância. Quando criança pegava um lápis e escrevia num caderno velho as histórias da minha vida”, relembra.


Gilvã é um dos brasileiros com necessidades educacionais especiais que estudam por meio de EAD. E para dar suporte a essas pessoas, a tecnologia assistiva entra em cena, disponibilizando diversas plataformas educacionais: para deficientes visuais ou cegos, há softwares gratuitos que promovem a conversão automática do arquivo de texto em sinais sonoros; os deficientes auditivos podem ter acesso ao próprio material escrito, mas no sistema de ensino COC, por exemplo, é disponibilizado um intérprete de libras nos próprios polos, com o objetivo de que os regionalismos comuns à língua portuguesa não atrapalhem o entendimento do conteúdo didático.


A comunicação entre e para deficientes auditivos também ganha apoio por meio de uma das características atuais desse público – eles estão bastante inseridos no mundo da tecnologia, como explica a coordenadora do curso de Pedagogia da Faculdade Interativa COC, Marina Caprio. “Os surdos são altamente tecnológicos, usam bastantes torpedos, chats”, explica.


Adesão - A educação a distância de fato abre uma gama de possibilidades à formação de pessoas com deficiência. Contudo, a participação desse público ainda não é tão vasta assim. O setor de EAD cresceu 200% nos últimos quatro anos, conforme dados do Anuário Brasileiro Estatístico de Educação a Distância, mas dos 300 mil alunos de graduação a distância, apenas 137 são deficientes (Censo da Educação Superior de 2007).


Os maiores beneficiados são os portadores de baixa visão, que representam 38,68% do montante total. Em seguida, aparecem os deficientes físicos (29,19%), cegos (17,51%), deficientes auditivos (7,29%), surdos (3,64%), deficientes mentais (2,18%), alunos com múltipla deficiência (0,72%) e aqueles com transtornos globais de desenvolvimento (0,72%).


Caprio avalia que o número de pessoas com necessidades educacionais especiais ainda é reduzido devido ao perfil não inclusivo da educação básica brasileira. “A principal dificuldade desse público não é ir ao polo de ensino. A questão é que não temos jovens e adultos que concluíram os estudos, nossa educação básica não está preparada para esse público, não possibilita a inclusão deles”, esclarece, prevendo que quando essa realidade tiver sido resolvida e superada, será possível maior inserção dessas pessoas no ensino superior.


Em relação à EAD de uma forma geral, a coordenadora aponta que é preciso baratear o acesso à banda larga - pois, sem internet, muitos alunos não dão continuidade aos estudos em casa – e a necessidade de reconhecimento da sociedade de que nem todas as instituições de ensino em EAD não têm qualidade. “Tem presencial que é ruim”, alerta Caprio. A falta de pesquisas na área é outro ponto abordado na entrevista.

Já do ponto de vista do cotidiano dos estudantes, Gilvã acrescenta que seria interessante que não apenas o material, mas as aulas também fossem disponibilizadas no site da instituição em que estuda, a Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), em Salvador (BA).

EAD e seus sonhos – É crescente a procura em todo o país por cursos a distância por parte dos alunos com necessidades educacionais especiais, destaca Marina Caprio. “Temos alunos com deficiência visual, auditiva e física matriculados regularmente. Tem aumentado a demanda”, pondera. Gilvã também destaca que nesses últimos anos a busca por esse método tem aumentado gradativamente. “Vejo isso lá na faculdade e logo creio que as pessoas com deficiência têm encontrado uma forma de inclusão tanto na sua vida profissional como na social.


O preconceito também vem diminuindo consideravelmente, pois as pessoas não estão tendo tempo para estudar presencialmente, então buscam uma faculdade EAD”.


O estudante-escritor-poeta avalia que gosta da modalidade a distância porque ela dá mais autonomia ao aluno, já que ele próprio pode programar o seu tempo para estudar, incentivando “um espírito desbravador”, nas palavras dele. “São os tutores e professores que nos inspiram isso”, explica. Diferentemente dos cursos presenciais, em que, segundo ele, os professores deixam os alunos dependentes e pouco proativos.


O mundo de possibilidades que o método oferece não para de crescer, assim como os sonhos de Gilvã: o homem que queria brincar de mudar seu destino quer seguir a carreira de escritor, sonha em fazer uma pós por meio de EAD no futuro e convida os leitores que olham para si e ainda duvidam de suas potencialidades com uma frase-chave de seu livro: “O homem não é fruto do meio e sim dos seus sonhos”.



Por Luana Almeida/SP

Fonte: JC Concursos em http://jcconcursos.uol.com.br/Concursos/Concursos/Noticiario/c-contador-de-historias-21865

3 comentários:

  1. Não sei ao certo se esse é o melhor lugar para fazer isto, mas foi a maneira que achei para falar e colocar minhas dúvidas.
    Acredito ser um campo neutro.
    Sou estudante de pegadogia, polo de Tatuí,último semestre e tive a experiência amarga de REPROVA no TCCII, claro que existem os dois lados dessa questão, mas aqui estou simplesmente dizendo sobre aquilo que senti, quando acessei o portal e vi REPROVA, nesse momento meu coração foi invadido por um sentimento muito ruim, de fracasso de incompetencia, nunca tinha passado por isto antes, também sei que pra tudo na vida existe uma primeira vez,mas nesse caso as consequências foram graves.
    Estou postando isso mais como um desabafo, um desabafo de uma professora que sentiu na pele como é desagradavel se empenhar em um trabalho por meses e o resultado dele ser negativo, "inconsistente eu diria".
    Mas por outro lado foi bom, pois como professora hoje e até o fim da minha carreira vou pensar muito, mais muito mesmo antes de reprovar qualquer trabalho que meu aluno realize, pois não quero que ninguém sinta o mesmo que senti.
    Além do sentimento de fracasso e incapacidade, uma reflexão permeou meus pensamentos, se reprovo o trabalho de um aluno também me reprovo, pois como professora tenho por obrigação ensinar, e se não atinjo meus objetivos logo não ensino e se não ensino evidentemente meu aluno não pode fazer aquilo que exigi. Portanto reprovar a um aluno é mesmo que se reprovar.
    Talvez essa reflexão não seja consistente, afinal diante de tudo, diante de uma REPROVA, pode parecer um apelo sentimental, mas como a Faculdade é interativa, e por isso não existe um contato, não existe vinculo, e por esses motivos não pude falar e nem me expressar, precisava fazer de alguma maneira.

    ResponderExcluir
  2. Gostaria de saber porque o curso de Pedagogia da COC ainda não foi reconhecido pelo MEC. A primeira turma já se formou e o processo continua em análise.

    ResponderExcluir
  3. Neste caso, aplica-se o disposto no Art. 63, da Portaria 40 de 12 de dezembro de 2007, que assim dispõe:

    Art. 63. Os cursos cujos pedidos de reconhecimento tenham sido protocolados dentro do prazo e não tenham sido decididos até a data de conclusão da primeira turma consideram-se reconhecidos, exclusivamente para fins de expedição e registro de diplomas. Parágrafo único. A instituição poderá se utilizar da prerrogativa prevista no caput enquanto não for proferida a decisão definitiva no processo de reconhecimento, tendo como referencial a avaliação.

    ResponderExcluir